Estilo de vinho

O que é um vinho laranja?

Publicado em 28 de julho de 2015
Atualizado em 01 de abril de 2023
Tempo de Leitura 3 mins. de leitura
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Vinhos laranjas

Aromas intensos, sabores complexos, tons profundos. Conhecidos como “vinhos laranjas”, esses vinhos cheios de caráter e incrivelmente versáteis para harmonização (devido à combinação de acidez alta, boa estrutura e tanino delicado) geralmente apresentam uma característica oxidativa.

O termo ‘vinho laranja’ foi utilizado em 2004 por David Harvey da importadora inglesa de vinhos finos Raeburn Fine Wines, enquanto trabalhava na vinícola Frank Cornelissen na região de Etna na Sicília. Harvey diz que não teve a intenção de rotular o vinho, apenas inventou um nome e o mesmo acabou pegando!

Mas o que exatamente é um vinho laranja?

Um vinho laranja nada mais é do que um vinho branco produzido como vinho tinto. Basicamente durante o processo de vinificação, existe uma maceração pelicular onde as cascas das uvas ficam em contato com o mosto por dias, semanas ou até mesmo meses.

O resultado difere não somente na cor mas principalmente na intensidade no nariz e boca, algumas vezes com taninos significativos.

No entanto, na visão de Sasa Radikon um dos grandes produtores de vinhos laranja, o vinho deve ser macerado em leveduras naturais e sem controle de temperatura.

Talvez a definição ‘vinho laranja’ não seja ideal, mas sem dúvidas esse estilo de vinho precisa ter umas categoria própria. Imaginem a surpresa de um cliente em um restaurante, ao realizar o pedido de um vinho branco e se deparar com um vinho de cor consideravelmente mais escura?!

Vinhos de cores que puxam para o laranja ou aloirado inevitavelmente são associados à oxidação, porém, no caso dos laranjas a cor vem das cascas das uvas, embora as técnicas de vinificação algumas vezes sejam oxidativas.

Vinhos brancos macerados geralmente tem uma maior resistência devido ao conteúdo fenólico anti-oxidante presente nas cascas das uvas que ajudam a preserva-los.

Um pouco sobre a história

Não se trata de uma moda passageira, uma vez que em Friuli e no vizinho esloveno Brda, a maceração das uvas brancas é muito antiga.

Para termos uma ideia da antiguidade dessa técnica, em 1844 Matija Vertovec, um padre de uma região próxima a Viapava Valley, listou os benefícios em seu manual Vinoreja za Slovence (vinificação para eslovenos).

Nesse manual ele recomenda maceração das cascas por um período que varia entre 24 horas a 30 dias e comenta ‘isso melhora o sabor e a durabilidade do vinho e garante que irá fermentar até secar’. De qualquer forma, esse método vulnerável foi amplamente esquecido devido à industrialização das vinícolas nos anos 70 com tanques de aço inoxidável, leveduras cultivadas e uniformização varietal.

Nos anos 90, Stanislao ‘Stanko’ Radikon and Josko Gravner, dois respeitados produtores da vila de Oslavia, estavam buscando os métodos mais clássicos.

Radikon sentiu que a Ribolla, uma espessa variedade branca não muito aromática, tinha mais a oferecer. A revelação surgiu em 1995 – um demorado contato das cascas, da mesma forma que o avô de Stanko costumava fazer. Essa foi a forma de aproveitar ao máximo esse poder.

Radikon reflete sobre quanto potencial foi perdido ao não utilizar essa técnica:

“Por anos foi como se estivéssemos apenas fazendo vinho rosé com as uvas do Château Petrus”.

Gravner buscou inspiração muito além; Enólogos da Geórgia vem fazendo vinho em qvevris

(ânforas de barro de forma cônica enterradas no solo) há pelo menos 5.000 anos.

Tipicamente, os brancos produzidos em qvevri ficam durante 6 meses em contato com as cascas,

uma longa tradição desconhecida no oeste enquanto o Iron Curtain prevaleceu.

Um pouco mais de História

Um enólogo de Collio chamado Nicola Manferrari, famoso por produzir vinhos varietais puros da vinícola Borgo del Tiglio’s,

não ficou satisfeito com o renascimento desse estilo e disse:

“Fazer vinhos assim é um desperdício de terroir, pois esses vinhos poderiam ser feitos em qualquer lugar.

Obscurece tudo – terroir, variedade. É um método primitivo, um retrocesso.” Manferrari representa um lado da divisão polarizada na região.

Casta e terroir são importantes, pois algumas variedades reagem melhor à maceração da casca do que outras. Não é por acaso que o renascimento do vinho laranja começou na Oslavia; Ribolla Gialla, com suas peles grossas e cheias de sabor é perfeitamente adequada para o microclima nas colinas circundantes, além disso, produtores de todo o mundo começaram a experimentar esse estilo, algumas vezes com bons resultados, mas ainda não existem grandes especialistas fora da Itália, Eslovênia e Geórgia.

A técnica pode ser complicada quando não se tem uma considerável experiência em vinificação. Pouquíssimos produtores do novo mundo resolveram testar e um dos contrapostos dos bons resultados são os preços altíssimos!

Sugestões:

Dario Princic Bianco Jakot 2011, Friuli, Itália R$ 294,00 – Piovino (93/100)

Valentini Trebbiano d’Abruzzo, Itália 2011 R$ 619,00 – Decanter (95/100)

De Martino Vinas Tinajas Muscat 2012 R$ – 123,30 Decanter (91/100)

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