Viticultura

Série Solos: Granito

Publicado em 29 de março de 2021
Atualizado em 01 de abril de 2023
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O solo de granito vem de uma rocha chamada magmática ou ígnea. As rochas ígneas intrusivas surgem a partir do resfriamento do magma, que é quente, e se formam dentro da crosta terrestre a partir da solidificação lenta desse magma, sob pressão e calor. Quando o granito sofre intemperismo ao longo de milhões de anos, ele produz uma variedade de solos: mica, quartzo, loess e argila, que facilmente se desintegram em misturas de cascalho, areia e partículas do tamanho de silte.O quartzo é muito presente em solos de granito e esse mineral pode ser associado à porosidade, que permite uma boa drenagem e também boa capacidade de aprofundamento da raiz da videira no solo.

Os solos graníticos possuem baixo pH, indicando que são ácidos, podem ter a presença de metais pesados como o ferro (um micronutriente que ajuda no desenvolvimento da vinha) e assim permite que a planta o absorva. Mesmo assim, o solo é tão pedregoso e ácido que se torna pobre em nutrientes. Esse solo pouco fértil, garante que uma videira não produza muito, lembrando que rendimentos baixos são interessantes na produção de vinhos mais superiores.

Uma região muito importante e famosa por ter solos de granito é o norte do Rhône, em um entorno de encostas íngremes e ventos fortes, com vinhos poderosos brancos de Viognier e tintos de Syrah, dependendo da região: Condrieu, Hermitage, Cornas, por exemplo. O granito é também um dos 13 tipos de solo que existem na Alsácia. Os Grands Crus Schlossberg, Brand e Sommerberg produzem Rieslings incríveis em solo granítico.

Não dá para deixar de falar de Beaujolais, ao sul da Borgonha, onde a Gamay cultivada em solo granítico muda sua personalidade e se torna ousada e ácida. Na porção norte de Beaujolais, onde estão os crus o solo é granítico, e cada um dos 10 têm suas particularidades que vem surpreendendo com vinhos únicos e alguns com grande potencial de envelhecimento. Ainda na França, a Córsega se destaca com as uvas Niellucio (Sangiovese) e Sciaccarello, e no Loire, Muscadet (em Pays Nantais) tem granito em seus subsolos. 

Na Itália o granito aparece na costa norte da Sardenha, na DOCG Vermentino de Gallura. Na Espanha, Rías Baixas produz incríveis Albariños que costumeiramente vêm de solos graníticos salpicados de quartzo rosa, e também é notória a importância desse solo em Ribeiro (com Mencía, Godello e outras) e Sierra de Gredos (com Albillo e Garnacha). Não longe de Rías Baixas, na região Vinho Verde, em Portugal, do outro lado do rio Minho o granito faz bonito em vinhos com alto frescor, enquanto no Douro mostra taninos cheios de vida. Descendo mais no país Ibérico, o granito no Dão com a Touriga Nacional, principalmente, corrobora para a elaboração de tintos muito expressivos.

Já no Novo Mundo, a África do Sul possui muitas vinhas nos solos graníticos, Paarl e Stellenbosch são dois grandes exemplos, com as uvas Chenin Blanc, Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Merlot e outras. Na Austrália, destacam-se as regiões Queensland, parte de New South Wales e de Victoria. Na Califórnia, vinícolas de Sierra Foothills orgulham-se da qualidade dos vinhos de Zinfandel produzidos em solos graníticos. Na América do Sul, o Chile tem elaborado vinhos muito interessantes, mais precisamente em Secano Interior (Maule). Um grande exemplo é J. Bouchon com os exemplares das uvas Sémillon e um blend de Cabernet Sauvignon e Carménère.

Considerando a parte gustativa, o granito está associado a uma acidez vibrante e um tanino, digamos, “nervoso”. De maneira geral, os vinhos vindos de solos graníticos mostram aromas tímidos quando mais jovens e ficam mais interessantes com o passar dos anos.

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