Viticultura

Série Solos: Calcário

Publicado em 12 de março de 2021
Atualizado em 01 de abril de 2023
Tempo de Leitura 3 mins. de leitura
Thumbnail do artigo Série Solos: Calcário

Calcário é uma rocha sedimentar que se formou a partir da decomposição de animais, como moluscos, peixes, corais, por exemplo, que ao longo do tempo foram comprimidos dando origem à rocha sedimentar. Nessa compressão, dependendo da quantidade de calor e pressão a que foram submetidos, pode ter originado solos tão suaves como giz ou muito duros, como uma pedra de calcário mesmo. São várias as regiões vitivinícolas de destaque que possuem solo calcário, o qual é rico em carbonato de cálcio, o alicerce da vida marinha.

Em seu estado mais puro, o calcário é branco ou quase branco, os tons diferentes facilmente vistos são de outros elementos que se misturam. Quando o local sofreu intemperismo (alteração física e química das rochas e de seus minerais) o calcário é cheio de tons diferentes.

 

Existem alguns benefícios do solo calcário para a videira, veja os mais comentados: 

    1. Boa capacidade de retenção de água no solo. O solo é capaz de reter água em condições de chuva em excesso, evitando alagamentos que aumentam a probabilidade de doenças radiculares e também retém água para alimentar a planta em tempos secos, evitando estresse hídrico (claro que existem outros fatores que definem a capacidade de retenção de água, como declive, quantidade de argila, vento, etc). Lembrando que a água é fator essencial para a boa nutrição da planta, mantendo-a viva e saudável.
    2. Retenção de acidez na uva. Estudos já comprovaram que uvas cultivadas em solos calcários tendem a ter mais acidez que as mesmas uvas plantadas em solos diferentes. Em solos calcários o cálcio desloca o potássio do solo e inibe a ação dele que parece ser um nutriente que reduz a acidez à medida que as uvas amadurecem. Talvez o exemplo mais citado seja Chablis, com sua acidez vibrante.

 

  • Permite o desenvolvimento do sistema radicular da videira. A raiz da videira, se estiver em um local com espaço e estrutura, é capaz de se aprofundar no solo capturando nutrientes e água nas camadas mais profundas, por isso a estrutura física do solo é importante para que isso aconteça. O solo calcário tende a ser poroso, isso quer dizer que à medida que seca, ele encolhe e cria fissura, onde as raízes penetram, e à medida que o solo fica molhado ele se expande, abrindo espaço para as raízes.
  • O cálcio também auxilia na proteção da uva contra algumas doenças. Estudos já mostraram que o cálcio é essencial para a formação de uvas resistentes a doenças. O cálcio é encontrado em maior concentração na casca, sendo essencial para a formação de paredes celulares fortes e manutenção da coesão da pele. 

 

 

Os solos calcários estão espalhados no mundo, os mais conhecidos são: o tuffeau amarelo e branco do Valle do Loire (Anjou e Saumur, principalmente), o giz cinza e branco de Champagne e o calcário clássico da Borgonha e do Jura. Na Itália, destaca-se a Toscana e o Piemonte, neste último os vinhedos costumam ficar no sopé das montanhas, onde beneficiam de exposição solar e solos bem erodidos, com calcário e areia que drenam bem e evitam acúmulo de umidade. Na Espanha, é possível visualizar o branco brilhante de Jerez (conhecido como albariza), já em Rioja Alta o solo é  uma mistura de calcário com argila e areia aluvial, e em Rioja Alavesa é onde tem maior concentração de solos argilo-calcários. Em algumas partes da Califórnia, como Paso Robles, é possível ver o solo calcário (se cavar bem é possível encontrar fósseis marinhos – escamas de peixes, conchas de ostras e ossos de baleia). Em Portugal os solos calcários estão em evidência na Bairrada, no Tejo, na Península de Setúbal e em Lisboa (existem partes desses locais que apresentam outros tipos de solos). Na Bairrada, o grande destaque é a enóloga Filipa Pato que vem mostrando o potencial do solo, principalmente, com a uva Baga e a Bical, esta última uma uva branca, digamos neutra, que mostra incrível potencial no solo calcário da região, com notas cítricas, nota de pera, um toque salino, com boa estrutura, cremosidade que pode até mesmo lembrar um Chablis Premier Cru ou Grand Cru.

Comentários

O blog da Eno Cultura disponibiliza o espaço para comentários e discussões dos temas apresentados no site, não se responsabilizando por opiniões, comentários e mensagens dos usuários sejam elas de qualquer natureza. Por favor respeite e siga nossas regras para participar. Compartilhe sua opinião de forma honesta, responsável e educada. Respeite a opinião dos demais. E, por favor, nos auxilie na moderação ao denunciar conteúdo ofensivo e que deveria ser removido por violar estas normas. Leia aqui os Termos & Condições de Uso e Responsabilidade.

A estrutura do site, bem como os textos, os gráficos, as imagens, as fotografias, os sons, os vídeos e as demais aplicações informáticas que os compõem são de propriedade do "Sentimento de Leitor" e são protegidas pela legislação brasileira e internacional referente à propriedade intelectual. Qualquer representação, reprodução, adaptação ou exploração parcial ou total dos conteúdos, marcas e serviços propostos pelo site, por qualquer meio que seja, sem autorização prévia, expressa, disponibilizada e escrita do site, é vedada, podendo-se recorrer às medidas cíveis e penais cabíveis. Leia aqui os Termos & Condições de Uso e Responsabilidade.

Artigo
Região

Série Solos: O que o solo de Jerez tem de tão especial?

28 de junho de 2021

Entenda aqui como o solo albariza e a alta capacidade de reter umidade influenciam diretamente nos vinhos produzidos na região de Jerez!

2 mins. de leitura
Continuar lendo
Artigo
Viticultura

Já ouviu falar em Terra Rossa?

30 de julho de 2021

Veja aqui o que é a Terra-Rossa, como ela impacta no vinho e quais e suas principais regiões. Confira também uma indicação de vinhos sobre o tema!

2 mins. de leitura
Continuar lendo

Participe do Movimento

Prove nossa essência! Inscreva-se hoje e seja o primeiro a receber notícias e atualizações da Eno Cultura.